Perdas e luto
- Andréa Rocha
- 28 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de jul. de 2018
Há uma crença de que o luto só existe quando se perde alguém que amamos e de que haveria
um tempo pré-determinado para voltar a vida normal. E o que é normal? Será possível
retomar a vida como antes?

É importante desmistificar com relação ao luto. O luto não ocorre apenas quando morre
alguém de fato, mas também quando ocorre uma frustração, queda de uma expectativa, perda
de um trabalho, etc, ou seja, quando morre algo em nós, sendo necessário retirar a libido
daquela pessoa, objeto ou situação para reinvestir na vida. Isso é um processo que nem
sempre é fácil ou rápido.

O tempo interno de cada um deve ser observado e caso isso se
prolongue muito, se faz necessário buscar auxílio.
O luto vem acompanhado normalmente de algumas reações, como: desânimo, tristeza, choro, angústia, dentre outros. Reações muito similares a uma depressão. Como Freud já nos dizia, uma distinção muito clara de que se está vivenciando um luto, é a certeza que temos do que
perdemos naquele momento. No luto normal, conforme há uma elaboração dessa perda, o
sujeito retorna a sua vida, com novos projeto e, novos investimentos libidinais. O sujeito não
se perde junto com o objeto, consegue fazer uma distinção de si e do que foi perdido.
Já num luto mais patológico, o sujeito tem dificuldade em voltar a olhar pra si, em suas
necessidades, em novos objetivos de vida e isso por muito tempo, por anos. Acontece como
uma paralização, um sofrimento constante sobre aquela perda, podendo se estender para um
sofrimento não só pontual sobre um objeto, mas um sofrimento existencial. Nesse caso já
estaria desenvolvido uma depressão.
Perder sempre é algo muito difícil e estamos perdendo o tempo inteiro. A maneira que
lidamos com as perdas diz muito do nosso posicionamento diante da vida e isso é construído
ao longo de nossa história. Traumas e dificuldades primárias podem gerar impacto numa perda
atual. A importância e intensidade do objeto perdido também interfere no nosso olhar e na
dor que sentimos.
Voltar a vida normal é algo muito subjetivo, pois se a vida normal que a pessoa tinha, já trazia
sofrimento, será que há desejo em voltar ao normal de antes? Não é toda perda que gera um
luto, mas algumas perdas nos fazem pensar e mudar de posição na vida. Mudar é ótimo, se
reinventar, buscar novos direcionamentos. Então porque é tão difícil mudar? Porque mesmo
sendo ótimo, nos coloca frente a um desconhecido. O desconhecido assusta e muitas vezes
temos medo de que esse desconhecido seja pior do que o ruim que estamos imersos. Mudar
exige coragem, sustentação de um desejo e responsabilização por qualquer resultado que
obtivermos.
Voltar a vida é possível, saudável e necessário. Mas essa volta nos investimentos objetais vai se
dar com um sujeito transformado pela perda, com outra perspectiva e valorização.
Nem sempre perder representa uma perda. Muitas vezes perder é ganhar. Ganhar coragem,
mexer no que estava inerte e se lançar no escuro. Perder pode apontar para o sujeito que ele
estava morto em vida e isso pode fazer com que retome sua vida na vida.
A maneira com que olhamos a vida faz as situações e perdas serem encarados de uma outra
forma. Como olhamos, faz doer mais ou menos.
Psicóloga Andréa Rocha
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