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Perdas e luto

Atualizado: 29 de jul. de 2018

Há uma crença de que o luto só existe quando se perde alguém que amamos e de que haveria

um tempo pré-determinado para voltar a vida normal. E o que é normal? Será possível

retomar a vida como antes?


É importante desmistificar com relação ao luto. O luto não ocorre apenas quando morre

alguém de fato, mas também quando ocorre uma frustração, queda de uma expectativa, perda

de um trabalho, etc, ou seja, quando morre algo em nós, sendo necessário retirar a libido

daquela pessoa, objeto ou situação para reinvestir na vida. Isso é um processo que nem

sempre é fácil ou rápido.



O tempo interno de cada um deve ser observado e caso isso se

prolongue muito, se faz necessário buscar auxílio.




O luto vem acompanhado normalmente de algumas reações, como: desânimo, tristeza, choro, angústia, dentre outros. Reações muito similares a uma depressão. Como Freud já nos dizia, uma distinção muito clara de que se está vivenciando um luto, é a certeza que temos do que

perdemos naquele momento. No luto normal, conforme há uma elaboração dessa perda, o

sujeito retorna a sua vida, com novos projeto e, novos investimentos libidinais. O sujeito não

se perde junto com o objeto, consegue fazer uma distinção de si e do que foi perdido.


Já num luto mais patológico, o sujeito tem dificuldade em voltar a olhar pra si, em suas

necessidades, em novos objetivos de vida e isso por muito tempo, por anos. Acontece como

uma paralização, um sofrimento constante sobre aquela perda, podendo se estender para um

sofrimento não só pontual sobre um objeto, mas um sofrimento existencial. Nesse caso já

estaria desenvolvido uma depressão.

Perder sempre é algo muito difícil e estamos perdendo o tempo inteiro. A maneira que

lidamos com as perdas diz muito do nosso posicionamento diante da vida e isso é construído

ao longo de nossa história. Traumas e dificuldades primárias podem gerar impacto numa perda

atual. A importância e intensidade do objeto perdido também interfere no nosso olhar e na

dor que sentimos.


Voltar a vida normal é algo muito subjetivo, pois se a vida normal que a pessoa tinha, já trazia

sofrimento, será que há desejo em voltar ao normal de antes? Não é toda perda que gera um

luto, mas algumas perdas nos fazem pensar e mudar de posição na vida. Mudar é ótimo, se

reinventar, buscar novos direcionamentos. Então porque é tão difícil mudar? Porque mesmo

sendo ótimo, nos coloca frente a um desconhecido. O desconhecido assusta e muitas vezes

temos medo de que esse desconhecido seja pior do que o ruim que estamos imersos. Mudar

exige coragem, sustentação de um desejo e responsabilização por qualquer resultado que

obtivermos.


Voltar a vida é possível, saudável e necessário. Mas essa volta nos investimentos objetais vai se

dar com um sujeito transformado pela perda, com outra perspectiva e valorização.

Nem sempre perder representa uma perda. Muitas vezes perder é ganhar. Ganhar coragem,

mexer no que estava inerte e se lançar no escuro. Perder pode apontar para o sujeito que ele

estava morto em vida e isso pode fazer com que retome sua vida na vida.

A maneira com que olhamos a vida faz as situações e perdas serem encarados de uma outra

forma. Como olhamos, faz doer mais ou menos.


Psicóloga Andréa Rocha


 
 
 

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